ascenção e queda do bidê

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Foi mesmo o modernismo quem transformou em piada esse negócio de mobilizar um grande aparato teórico pra levar adiante a análise de uma banalidade? Ascenção e Queda do Bidê; A Extinção do Touro-Mecânico; Genealogia da Uva-Passa; coisas assim. Quem foi que riu primeiro? Haveria de ser necessário que, antes, chegássemos à hipótese de que não há banalidades, simplesmente porque não há nada abaixo da superfície? Certo está, que foi antes dos historiadores tornarem isso um ofício. Há quem goste de pensar que, em termos literários, Ulysses, de Joyce, seja o êxito (e fracasso) máximo desse tipo de vontade. Uma piada seríssima. Uma piada e a gargalhada, às vezes relaxada às vezes desesperada, de quem riu da própria piada.

Tendo sido o modernismo ou não, a piada persiste até hoje nos circunscritos meios intelectualizados, às vezes servindo até como exercício literário-criativo: tergiversar sobre o nada, sobre aquilo que se confunde com o nada, recorrendo, para tanto, se e quando necessário, aos clássicos e cânones do pensamento e das letras – tornar interessante, e engraçado, aquilo que é ordinário e banal, mas de um modo que o esforço por tornar este algo em algo interessante não fique tão nítido a ponto de soterrar, com o excesso de estilo, a superficialidade transcendental de um caroço de azeitona, por exemplo, ou do cheiro do esmalte, ou dos processos fisiológicos humanos. A literatura, assim, é mais um esforço de criar o extraordinário do que de relatá-lo, esta que seria sua função original.

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anatomia de uma obra

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O romance do escritor luso-argelino Aconcágua Mem, intitulado Looping Roliço (Editora Ventre & Vida), de 2011,  tornou-se, há pouco tempo, objeto de culto por uma parte da crítica literária especializada em coisa alguma, três anos após uma estreia que, ninguém discorda, passou-se bem desapercebida. A obra chamou a atenção daqueles que a leram, um grosso volume de 884 páginas, especialmente depois que Aconcágua supostamente deu-se por desaparecido seis semanas após o seu lançamento, tendo sido visto pela última vez em um café, em Medelín, a cidade colombiana em que residia.

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a voz que vem das mãos

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“A língua deve ser introduzida e adquirida o mais cedo possível, senão seu desenvolvimento pode ser permanentemente retardado e prejudicado, com todos os problemas ligados à capacidade de ‘proposicionar’ mencionados por Hughlings-Jackson. No caso dos profundamente surdos, isso só pode ser feito por meio da língua de sinais. Portanto, a surdez deve ser diagnosticada o mais cedo possível. As crianças surdas precisam ser postas em contato primeiro com pessoas fluentes na língua de sinais, sejam seus pais, professores ou outros. Assim que a comunicação por sinais for apreendida – e ela pode ser fluente aos três anos de idade -, tudo então pode decorrer: livre intercurso de pensamento, livre fluxo de informações, aprendizado da leitura e escrita e, talvez, da fala. Não há indícios de que o uso de uma língua de sinais iniba a aquisição da fala. De fato, provavelmente ocorre o inverso.

Os surdos, sempre e em toda parte, foram vistos como ‘deficientes’ ou ‘inferiores’? Terão sempre sido alvo, deverão sempre ser alvo de discriminação e isolamento? É possível imaginar sua situação de outro modo? Que bom seria se houvesse um mundo onde ser surdo não importasse e no qual todos os surdos pudessem desfrutar uma total satisfação e integração! Um mundo no qual eles nem mesmo fossem vistos como ‘deficientes’ ou ‘surdos’.

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A Larica de Outros Tempos

 

Excertos de uma memória apresentada pelo Dr. Rodrigues Dória ao Segundo Congresso Científico Pan-Americano, reunido em Washington D.C, a 27 de dezembro de 1915, intitulada Os fumadores de maconha: efeitos e males do vício:

“O uso do cânhamo é muito antigo. Heródoto fala da embriaguez dos citas que respiravam e bebiam a decocção dos grãos verdes do cânhamo. No livro de Botânica do dr. J. M. Caminhoá, que foi professor desta matéria na Faculdade de medicina do Rio de Janeiro, lê-se que o famoso ‘remédio das mulheres’ de Dióspolis, bem como o nepente de que fala Homero, e que Helena recebera de Polimnésio, era a Cannabis indica. Os cruzados viram os efeitos nos muçulmanos. Marco Polo observou nas cortes orientais entre emires e os sultões. É muito usado no vale do Tigre e Eufrates, nas Índias, na Pérsia, no Turquestão, na Ásia Menor, no Egito e em todo o litoral africano. Com cânhamo se prepara o haxixe, como já foi dito, e ainda pouco conhecido na sua manipulação; o povo do Oriente fuma o pó das folhas e flores no narguilé.”

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O Feminismo e a Agenda Reptiliana

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Verdades e Segredos do Sétimo Círculo

É provável que quando esta mensagem chegar até vocês eu já tenha sido morto ou capturado por Eles. Sei de coisas que Eles não querem que vocês saibam. Consegui coletar informações importantes e preciosas nas últimas semanas, e, juntando os pontos, percebi que o que está em jogo no nosso planeta e, precisamente, no Brasil, é uma série de grandes e sinistros complôs atuando para a auto-destruição da Humanidade e de toda a Quinta Dimensão da Realidade.

É extremamente necessário que esse texto seja compartilhado nas redes sociais e afins, para que triunfe a Verdade e o Bem prevaleça neste Mundo. Eles devem ser detidos a tempo! As peças do tabuleiro já estão todas nos seus devidos lugares. Tudo passará despercebido da Grande Massa, então é necessário que uma grande campanha de Conscientização Cósmica se inicie. 

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O que fazer com os restos?

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AVISO IMPORTANTE: por inúmeros motivos, mas principalmente devido ao ritmo e à duração, esse texto foi feito pra ser lido enquanto o leitor acende e fuma sozinho e silenciosamente um cigarro de maconha, preferencialmente pequeno, mas não importando se sativa ou indica.

O que fazer com os restos?

Estávamos numa festa. Bem meia-boca, por sinal. Joel chegou dizendo que tinha uma ideia. Diante das possibilidades, nenhum flerte sendo sustentado naquele momento, nenhuma música dançante rolando, Joel entendeu aquilo como uma deixa.

– É algo que não vai exigir o menor esforço, essa ideia. – disse, encontrando, com algum custo, um pequeno espaço pra se sentar no sofá logo ao meu lado.

Puxei pro meu colo um livro, uma edição em capa dura, bem velha, da antologia poética do Mario de Sá-Carneiro, deixado ali na mesa de centro por algum veterano jamais mencionado, mas que bem poderia estar pensando, quando abandonou o livro ali, em dar àquele exemplar um uso análogo ao das revistas das salas de espera dos consultórios odontológicos. Só que junto com o livro, e sobre ele, vinham um dixavador e uma sedinha Colomi. Comecei a dixavar um pedaço de maconha que Joel retirou do bolso e me entregou.

– É uma ideia. – ele disse. – tem a ver com maconha.

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Um feriado para os que querem continuar trabalhando

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Antes a manifestação tivesse sido confundida com um carnaval. Da próxima vez, professores, tragam mulatas seminuas na frente, que aí os policiais baixarão as escopetas. Um carro alegórico até que não será de mau uso. Adoraria ver uma ala de baianas formadas pelas históricas tiazinhas gordas que habitam as repartições públicas. Todos vestindo vermelho e dourado.

Quesito: pureza ideológica.

Nota: 8.3

O carnavalesco diz que agora é feriado, dia 1 de Maio. Data que remete a uma ação comunista ocorrida há mais de século. Os vermelhos estavam, como durante muito tempo costumaram estar, do lado dos que exigiam. Manifestações respondidas com violência, mortes, greves. Com exceção das mortes, foi o mesmo espetáculo que Beto Richa, século depois, quis dar. Que a posteridade guarde o seu nome, e o daqueles que o apoiam dentro ou fora das fronteiras do Paraná. Mas e o feriado?

Não dá pra disparar balas de borracha num feriado. Só dá pra aproveitá-lo, fazendo brotar em nós aquilo que Eneida Orides chamou de enferiamento da alma. Imagino trupes de homens de terno e gangues de secretárias sentados no colo uns dos outros, assinando acordos evasivos de maneira perfunctória, de olho apenas nas poupanças que se afundam em sofás que cheiram a whisky e prostituição de luxo.

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A melhor lista das 45 melhores listas de coisas de todos os tempos

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– As 4 melhores posições em que um ser humano pode se ajeitar quando quiser chocar um ovo de avestruz.

– Os 6 melhores remédios que não fazem absolutamente nenhum efeito sobre nenhuma área do seu corpo & mente.

– As 7 pinturas renascentistas que sobreviveram a mais de dois naufrágios.

– Os 11 mortos mais bem vestidos da Revolução Francesa.

– Os 13 ataques de catalepsia nos momentos mais inapropriados da história.

– As 41 calças de moletom mais amarrotadas de todos os tempos.

– Os 37 atrasos de ônibus mais rápidos já acontecidos em rodoviárias do Oeste paulista.

– As 22 formações de farelo de pão mais imageticamente sugestíveis do último triênio.

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a lealdade

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A história, entre a hipótese e a ficção, deve começar com um grupo de caçadores, distantes de nós por pelo menos trezentos séculos, encontrando uma ninhada de filhotes de lobos. Aqueles que deveriam ser os pais jaziam mortos ainda ao lado, um grande lobo cinza, maior, de dentes terríveis e de pelagem farta, ele atravessado com a lança de um dos caçadores, e a loba, caída ao lado dele, com os seios cheios de leite e o focinho destroçado por uma pedrada.

Alguém tem a ideia de recolher os filhotes. Não matá-los. Por empatia? O caçador lembrou-se de uma das crianças, um dos novos bebês da tribo, a quem deu ao mundo sua mulher. Impediu, com um grito, que os outros caçadores derramassem qualquer sangue novo. E tendo esse grupo de caçadores regressado à tribo, que destino teriam dado aos filhotes dos lobos?

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