Há quem diga que o bidê, após o acoplamento da ducha, tenha se tornado o instrumento mais capaz e o maior responsável dentre os dispositivos modernos a dar uma dimensão verdadeiramente nova de significados à palavra “analógico”. O seu uso ancilar à higiene no século XX chegou até mesmo a tornar-se obrigatório em alguns países, como a Itália. Costumava instalar-se no quarto, de onde foi demovido, passando depois a habitar os banheiros. A origem da palavra vem do francês “bidet”, ou “bider”, que quer dizer “trotar” – uma óbvia comparação à posição em que montamos num cavalo sugere que também estaríamos montando este valoroso utensílio doméstico, que hoje, após a cansativa saga dos anos 80 e 90, sobrevive em grande parte dos apartamentos de classe média funcionando como um depósito de revistas velhas, em cujo acervo deveriam certamente constar algumas edições clássicas da Revista Isto É, Época, ou Veja, e Playboys da época em que vaginas ainda tinham pelos, sempre no fundo mais inalcançável da pilha de revistas que, erguendo-se de dentro do bidê, parece não ter fim. A comparação é pertinente. O coice proporcionado pela forte propulsão de alguns bidets que experimentei já me fez sentir violado.
Quando colocados ao lado da privada, em banheiros de menor espaço, distintos dos banheiros modelo europeu, podem acabar levando crianças ou idosos com problemas de vista a confundi-los com a própria privada, e as fezes, ao contrário de boiarem no confortável reservatório de água da privada, escorreriam pela fria louça do bidê antes de esvoaçarem pelo banheiro quando o defecante girasse a válvula pensando em ativar a descarga e, sem saber, desse vazão à água que, com forte impulso, saltaria pra fora do bidê, onde antes estava acostumada a entrar na cavidade anal ainda mais ou menos suja do defecante em questão e exercer ali o seu poder de limpeza, agora voaria livre, levando consigo dejetos nunca dantes vistos.