ocultas técnicas de reorientação sexual adaptada

 

Eu já sabia que era viado muito antes de dar o primeiro beijo.

Desde pequeno eu ficava olhando pras mãos calejadas dos homens mais velhos, e pros ombros dos rapazes na puberdade. Ombros largos, eu gostava. Quando fiquei mais velho, passei a procurar por mãos com anéis de noivado. Dependendo das mãos, eu ficava de pau duro só de ver uma aliança ali no meio.

Trocar de roupa no meio de uma turma de meninos foi, de longe, o evento mais regozijante de toda a minha tediosa pré-adolescência cristã. Lembro-me de cada uma das vezes em que tive a oportunidade de compartilhar do vestiário com os meus colegas que jamais souberam de meu interesse pelas suas partes pudendas e demais zonas corporais visitadas pelo olhar de meu recatado interesse erótico. Eu ficava tímido, mas prestava atenção em tudo pra poder me lembrar bem depois. Olhava pros volumes nas cuecas.

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negociações de guerra

– Senhor presidente, com a sua licença.

– Pois não?

– O emissário estrangeiro já está aí fora.

– Mande-o entrar, porra.

Entra o emissário.

– Muito prazer, senhor presidente.

– Sente-se, fique à vontade, por favor.

– Muito obrigado, senhor presidente. Vossa cordialidade será lembrada.

– É uma honra! Uma honra tê-lo aqui conosco. Estive no aguardo, muito ansiosamente.

– Desculpe-me a demora, senhor, mas aconteceram imprevistos…

– Sem necessidade de desculpas, meu caro emissário! Eu entendo plenamente. As estradas estão mesmo muito complicadas nesta época do ano.

– Não tenho como saber, senhor. Eu viajei de helicóptero.

– O caos aéreo, eu diria, muito pior! Deve ter sido um martírio!

– Já fiz viagens piores, senhor. Não tenho do que reclamar, na verdade.

– Pois bem, pois bem. Estou muito contente que tenha chegado. Muito já foi falado, muito já foi conversado entre nossas nações, mas finalmente temos a oportunidade de falar diretamente, face a face, tete-a-tete, o que é muito melhor. Não acha?

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the feeling of prehistory

“Inside a ruined temple the broken statue of a god spoke a mysterious language. For me this vision is always accompanied by a feeling of cold, as if I had been touched by a winter wind from a distant, unknown country. The time? It is the frigid hour of dawn on a clear day, towards the end of spring. Then the still glaucous depth of the heavenly dome dizzies whoever looks at it fixedly; he shudder and feels himself drawn into the depths as if the sky were beneath his feet; so the boatman trembles as he leans over the gilded prow of the bark and stares at the blue abyss of the broken sea. Then like someone who steps from the light of a day into the shade of a temple and at first cannot see the whitening statue, but slowly its forms appears, even purer, slowly the feeling of the primordial artist is reborn in me. He who first carved a god, who first wished to create a god. And the I wonder if the idea of imagining a god with human traits such as the Greeks conceived in art is not an eternal pretext for discovering many new sources of sensations.

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