ascenção e queda do bidê

bidet

Foi mesmo o modernismo quem transformou em piada esse negócio de mobilizar um grande aparato teórico pra levar adiante a análise de uma banalidade? Ascenção e Queda do Bidê; A Extinção do Touro-Mecânico; Genealogia da Uva-Passa; coisas assim. Quem foi que riu primeiro? Haveria de ser necessário que, antes, chegássemos à hipótese de que não há banalidades, simplesmente porque não há nada abaixo da superfície? Certo está, que foi antes dos historiadores tornarem isso um ofício. Há quem goste de pensar que, em termos literários, Ulysses, de Joyce, seja o êxito (e fracasso) máximo desse tipo de vontade. Uma piada seríssima. Uma piada e a gargalhada, às vezes relaxada às vezes desesperada, de quem riu da própria piada.

Tendo sido o modernismo ou não, a piada persiste até hoje nos circunscritos meios intelectualizados, às vezes servindo até como exercício literário-criativo: tergiversar sobre o nada, sobre aquilo que se confunde com o nada, recorrendo, para tanto, se e quando necessário, aos clássicos e cânones do pensamento e das letras – tornar interessante, e engraçado, aquilo que é ordinário e banal, mas de um modo que o esforço por tornar este algo em algo interessante não fique tão nítido a ponto de soterrar, com o excesso de estilo, a superficialidade transcendental de um caroço de azeitona, por exemplo, ou do cheiro do esmalte, ou dos processos fisiológicos humanos. A literatura, assim, é mais um esforço de criar o extraordinário do que de relatá-lo, esta que seria sua função original.

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