confissões de um homem ansioso

As Forças Armadas do Brasil têm me tirado o sono.

Não é algo que tenha a ver com a maldita intervenção no estado do Rio de Janeiro, não.  Nada que ver com criancinhas revistadas na entrada da escola e as pobres famílias da favela sendo oprimidas por uma ocupação provavelmente mais desastrada que a cavalaria francesa na batalha de Azincourt (sim, sou fissurado por história militar e, aviso ao leitor, este texto é cheio de referências a isso).

Sofro de ansiedade e insônia. Eis a razão de minha insônia, e o estopim das minhas crises de ansiedade: o sucateamento das corporações militares brasileiras, e a sua inoperância em caso de uma possível invasão estrangeira.

É, para mim, extremamente doloroso escrever estas palavras, abordar o assunto de frente e sem pestanejar, e quando penso na inabilidade geral de nossos combatentes dentro das situações hipotéticas que venho imaginando para eles, chego mesmo a sentir palpitações no coração.

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ocultas técnicas de reorientação sexual adaptada

 

Eu já sabia que era viado muito antes de dar o primeiro beijo.

Desde pequeno eu ficava olhando pras mãos calejadas dos homens mais velhos, e pros ombros dos rapazes na puberdade. Ombros largos, eu gostava. Quando fiquei mais velho, passei a procurar por mãos com anéis de noivado. Dependendo das mãos, eu ficava de pau duro só de ver uma aliança ali no meio.

Trocar de roupa no meio de uma turma de meninos foi, de longe, o evento mais regozijante de toda a minha tediosa pré-adolescência cristã. Lembro-me de cada uma das vezes em que tive a oportunidade de compartilhar do vestiário com os meus colegas que jamais souberam de meu interesse pelas suas partes pudendas e demais zonas corporais visitadas pelo olhar de meu recatado interesse erótico. Eu ficava tímido, mas prestava atenção em tudo pra poder me lembrar bem depois. Olhava pros volumes nas cuecas.

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as consequências psicossociais das viagens no tempo

Na sala de experiências transtemporais, no subsolo de uma universidade brasileira não mencionada, os cientistas, moliéres e ômis, aguardam ansiosamente pela chegada da viajante do futuro. Atrasos eram previstos. Por se tratar de um evento inédito, a demora em se consumar faz com a crise se acelere e produza uma expectativa muito além daquela suportada até agora pela turma de cientistas escalada para o turno.

As coisas evoluíram depressa. Há exatamente um ano o primeiro memorando, diretamente enviado do futuro, aparecia pra eles na telinha de um monitor. A mesma localização, o mesmo laboratório, indicado pelas coordenadas. Resultados previstos, mas nem por isso isentos de euforia. Haviam acabado de comprovar, antes que qualquer outro centro de pesquisa do mundo chegasse aos mesmos resultados, a possibilidade de se enviar e receber dados digitais para o passado e para o futuro, algo através do continuum espaço-temporal canalizado por um terminal transdimensional construído pelo pessoal da escola de engenharia, com a ajuda de uma consultoria virtual prestada por uns alemães surpreendentemente insubordinados.

A mensagem, ao que tudo indicava, havia sido enviada por eles mesmos. Num futuro próximo de daqui a duas horas.

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