o brasil dos vampiros psíquicos

Venho do futuro para dizer aos habitantes deste século que as coisas mudaram e que as coisas continuarão mudando.

Não gastei a viagem à toa. Pelos caminhos que levam para dentro do Brasil os nativos deixaram um pouco de tudo sob a poeira.

Sei por exemplo que ainda vigora o feitiço de um selvagem que do meio da selva para sempre amaldiçoou os invasores desta terra, e que a catiça foi braba o bastante pra ninguém percebê-la.

Ninguém sabe bem o que tem lá pra dentro do país. Nem índio, nem preto, nem europeu. A tinta vermelha que dá nome à pátria não aparece na bandeira.

Dizem que não aparecerá jamais.

Sei que até o ano de 2100 os grupos de compartilhamento de mensagem terão formado profundas galerias de arquivos a serem escavados e reescavados por inteligências artificiais eternamente dedicadas à fabricação de feiquinius, emaranhadas em grandes nodos de informação que se coligiram por vontade própria.

Os comitês de engenharia ideológica, espalhados no multiverso digital, semeiam logaritmos que disparam trilhões de mensagens para infinitos planos de dimensão possíveis, programando-os para fixarem-se apenas naqueles onde sucedem-se segundos turnos tão terríveis quanto este do atual presente que visito.

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Nullus

Scalping of Jane McCrea

“Não me são muito claras as razões pelas quais anulei meu voto na eleição para presidente. Não foi a primeira vez. 2010 havia sido a mesma coisa. Uma diferença era incapaz de passar despercebida: na eleição anterior eu sabia desde o início que iria anular o voto. Em 2014 a coisa foi outra: assumi, inclusive publicamente, que iria votar na Dilma desde que soubera que o segundo turno seria disputado entre ela e o Aécio. Defendi suas propostas, argumentei em reuniões de família. Se algo me deixou longe das redes sociais foi como uma espécie de preferência pela limpeza, pela discrição, e pela desconfiança. Apenas no último dia foi que me resolvi pelo voto nulo.

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Diagnósticos

catch-22-quote

Se, no passado, a paranoia anticomunista justificou intervenções, hoje tal discurso não deixa de clamar por salvadores. Mas, se o comunismo, num cenário de 50 anos atrás, existia enquanto ameaça real, pertencente a um contexto de Guerra Fria, hoje, aquilo que os seus inimigos temem e atacam não é senão uma farsa. Aqueles que se opõem ao PT recorrem a motivos praticamente simétricos: os que enxergam no partido o germe da vontade comunista estão a ver uma caricatura de feições exageradas; os que o entendem como um veículo burguês que traiu suas bases operárias têm diante de si uma deformidade, uma anomalia.

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