o brasil dos vampiros psíquicos

Venho do futuro para dizer aos habitantes deste século que as coisas mudaram e que as coisas continuarão mudando.

Não gastei a viagem à toa. Pelos caminhos que levam para dentro do Brasil os nativos deixaram um pouco de tudo sob a poeira.

Sei por exemplo que ainda vigora o feitiço de um selvagem que do meio da selva para sempre amaldiçoou os invasores desta terra, e que a catiça foi braba o bastante pra ninguém percebê-la.

Ninguém sabe bem o que tem lá pra dentro do país. Nem índio, nem preto, nem europeu. A tinta vermelha que dá nome à pátria não aparece na bandeira.

Dizem que não aparecerá jamais.

Sei que até o ano de 2100 os grupos de compartilhamento de mensagem terão formado profundas galerias de arquivos a serem escavados e reescavados por inteligências artificiais eternamente dedicadas à fabricação de feiquinius, emaranhadas em grandes nodos de informação que se coligiram por vontade própria.

Os comitês de engenharia ideológica, espalhados no multiverso digital, semeiam logaritmos que disparam trilhões de mensagens para infinitos planos de dimensão possíveis, programando-os para fixarem-se apenas naqueles onde sucedem-se segundos turnos tão terríveis quanto este do atual presente que visito.

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Cérebros Funcionais

Last exit to Babylon

“A vida. Ela não fará sentido se eu não puder, depois de morto, transferir meu cérebro para outra forma de vida. Eles congelam seu corpo até conseguirem ter tecnologia suficiente pra isso. O cérebro, preservado, quero que o coloquem depois num carro. Se não tiver grana suficiente na poupança, me botem num Aspirador-de-Pó viciado em pó. O carro, bem musculoso, apaixonando-se por outros carros, esfregando-se em outros carros, outras traseiras, rabôs-de-peixe ou capôs-de-fusca, os pneus subindo nos capôs encapotados, ou então conversíveis, tudo pra que eu pudesse sentir o que sentiria um carro quando estivesse com tesão, pois que se os carros sentissem tesão uns pelos outros, o orgasmo coletivo das ruas das metrópoles futuras seriam revoluções puerperais de efeitos indeléveis às contas públicas, e isso obrigaria os governos a adotarem meditas proibitivas em relação ao orgasmo dos veículos, criando, para tanto, provavelmente um índice capaz de medir a porcentagem de revolução latente em cada gozo e um órgão público pra fazer valer a lei do índice, e cada esporrada teria de, a partir de então, ser, pelo menos, um pouco mais contida, um pouco mais adequada às regras de convívio impostas pelos orgasmos humanos, muito mais insossos e secos que os lubrificados e equinos orgasmos automobilísticos, só que, e isso há de se levar a sério, sabendo disso tudo, alguns poucos Exploradores de Orgasmo poderiam muito bem começar a fazer isso meio que na clandestinagem, os safardanas, eles bem poderiam começar a criar Clubes de Gozo para os Automóveis mais boêmios, mais subversivos, mais dispostos a chegarem até a quinta ou sexta marcha do Orgasmo, pra depois descansar na banguela em ponto-morto, e depois engatar no tranco de novo, de repente, e isso tudo disponível também para aqueles que, mais reprimidos, quisessem se soltar um pouco mais de vez em quando, eles também montados em pneumáticos, nas lanternas-de-freio e eixos-cardãs alheios, inalando quantidades de fumaça de escapamento que Stuart Angel nenhum botaria defeito. O desempenho, também dependeria muito do combustível. E quem é que consegue pensar em combustível no Brasil sem pensar que o preço da parada só tem aumentado desde que o mundo é mundo? Coloquem-me então num Aspirador-de-Pó, ou num Saca-Rolhas. O orgasmo de cada eletro-doméstico-inteligente do futuro será alcançado toda vez que algum outro humano, ou então o próprio eletro-doméstico-inteligente, executar a função para a qual o eletro-doméstico em questão foi projetado. Um liquidificador-inteligente terá um orgasmo toda vez que destruir os ingredientes que porventura caíam em suas hélices, por exemplo. Imagine o orgasmo de um Saca-Rolhas?”

O Verme dos Rochedos.