maneiras curiosas de ir à guerra

selk-nam_0009

Os tehuelches e seus cogumelos

Os habitantes da planície da Patagônia pareceram ter, à primeira vista dos viajantes europeus que por lá aportaram, de dois metros e meio até três metros de altura. Fosse essa dimensão exagerada um efeito da silhueta de indivíduos naturalmente altos aumentada pela vasta paisagem desértica da região em que viviam tendo como comparação a baixa altura de um europeu comum, ou então um recurso dramático pra incrementar as próprias narrativas criadas pelos viajantes, os tehuelches que combateram o avanço da nação argentina em meados do século XIX durante a conquista do deserto patagônico empreenderam o uso de certas técnicas pouco convencionais na história militar, o bastante para que fossem recordados pelos seus inimigos ainda muitos anos depois de terem desaparecido.

Continuar lendo

A guerra nas sociedades selvagens

Cave_paintings

“Foi o descobrimento da América que, como se sabe, forneceu ao Ocidente a ocasião de seu primeiro encontro com aqueles que, desde então, seriam chamados de selvagens. Pela primeira vez os europeus viram-se confrontados com um tipo de sociedade radicalmente diferente de tudo o que até então conheciam, precisaram pensar uma realidade social que não podia ter lugar em sua representação tradicional do ser social: em outras palavras, o mundo dos selvagens era literalmente impensável para o pensamento europeu. Aqui não é o lugar de analisar em detalhe as razões dessa verdadeira impossibilidade epistemológica: elas se relacionam à certeza, coextensiva a toda a história da civilização ocidental, sobre o que é e o que deve ser a sociedade humana, certeza expressa desde a aurora grega do pensamento europeu do político, da polis, na obra fragmentária de Heráclito. A saber, que a representação da sociedade como tal deve encarnar-se na figura do Um exterior à sociedade, na disposição hierárquica do espaço político, na função de comando do chefe, do rei ou do déspota: só há sociedade sob o signo de sua divisão em Senhores e Súditos. Resulta dessa visão do social que um grupo humano que não apresente o caráter da divisão não pode ser considerado uma sociedade. Ora, quem é que os descobridores do Novo Mundo viram surgir nas praias atlânticas? “Gente sem fé, sem lei, sem rei”, segundo os cronistas do século XVI. A causa era assim entendida: esses homens no estado de natureza não haviam ainda chegado ao estado de sociedade. Quase unanimidade, perturbada apenas pelas vozes discordantes de Montaigne e La Boétie, nesse julgamento sobre os índios do Brasil.

Continuar lendo