no bambuzal dos boatos

Uma comissão sem nome perambula pelos corredores do Palácio do Planalto. Ninguém sabe quem convocou seus membros. Ninguém sabe de onde veio a ideia. Ninguém sabe a que serve e o que se pretende fazer.

A comissão discutirá a situação do país e fará reuniões deliberativas. A comissão paga hora extra e tem pausa pro cafezinho.

O terno é o uniforme dos canalhas. Os funcionários podem ser corruptos, cretinos, estelionatários, picaretas, o que quer que seja, mas têm sentimentos e sabem se emocionar. O heroísmo é proporcional ao melodrama.

Um dia recebemos uma moção, vinda de um representante de outro ministério. No outro dia noticiaram cortes no orçamento. No instante seguinte, boatos desmentem boatos anteriores. Listas negras, infogramas, quadros de avisos, informes – de repente alguém olhou e viu o tamanho do trabalho que teríamos pela frente, e aí já era tarde. Não dava mais pra desistir.

A comissão ficará responsável pela tarefa de sustentar mentiras e prolongar boatos. O objetivo do grupo é fornecer, ao conjunto público dos cidadãos deste país, evidências empíricas que ajudem a comprovar como verdadeiros os complôs que se sustentam no imaginário popular.

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confissões de um homem ansioso

As Forças Armadas do Brasil têm me tirado o sono.

Não é algo que tenha a ver com a maldita intervenção no estado do Rio de Janeiro, não.  Nada que ver com criancinhas revistadas na entrada da escola e as pobres famílias da favela sendo oprimidas por uma ocupação provavelmente mais desastrada que a cavalaria francesa na batalha de Azincourt (sim, sou fissurado por história militar e, aviso ao leitor, este texto é cheio de referências a isso).

Sofro de ansiedade e insônia. Eis a razão de minha insônia, e o estopim das minhas crises de ansiedade: o sucateamento das corporações militares brasileiras, e a sua inoperância em caso de uma possível invasão estrangeira.

É, para mim, extremamente doloroso escrever estas palavras, abordar o assunto de frente e sem pestanejar, e quando penso na inabilidade geral de nossos combatentes dentro das situações hipotéticas que venho imaginando para eles, chego mesmo a sentir palpitações no coração.

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