é verdade que usamos apenas 10% da nossa capacidade cerebral?

É muito pouco provável que você nunca tenha ouvido, em algum momento da sua vida, a história de que nós, seres humanos, usamos apenas 10% de toda a nossa capacidade cerebral. O valor da porcentagem, na verdade, costuma variar. Já encontrei afirmações que diziam que usamos apenas 15%, 20%, ou 25% da nossa mente, e que, se pudéssemos acessar todo o restante do nosso potencial, seríamos capazes de realizar verdadeiras façanhas.

De onde foi que se originou essa história? Costuma-se atribuir a origem dessa ideia aos primórdios do desenvolvimento da psicologia, na virada do século XIX para o XX. Hoje em dia pesquisadores e cientistas entendem que essa hipótese surgiu a partir de uma má compreensão dos estudos dos psicólogos William James e Boris Siddis. A sugestão nasce do deslumbramento em relação às regiões inexploradas do cérebro, e a suspeita de que essas zonas complexas pudessem guardar atividades cerebrais ocultas, até então desconhecidas para nós. A suspeita dessa possibilidade latente na espécie humana teria surgido a partir das pesquisas neurológicas feitas com crianças superdotadas. A má generalização dessa hipótese, aliada à incompreensão do funcionamento dos neurônios naquele período das pesquisas científicas, teria criado as condições para a divulgação desse mito.

Entretanto, acredito que essa explicação não seja suficientemente satisfatória para explicar a popularidade do mito dos 10% na nossa cultura. De fato, se percorrêssemos uma vasta quantidade de produtos culturais, indo desde os filmes de Hollywood, passando pelos livros de ficção científica, e chegando nos livros de autoajuda e programas de coaching, encontraríamos um volume de exemplos realmente acachapante em favor da validade desse mito. Minha hipótese é de que a sua genealogia pode ser extrapolada até contextos mais antigos e recuperada a partir do estudo das religiões.

Continuar lendo