Gosma

“Todo brasileiro já se irritou com o próprio país. Todo cidadão deste país, alguma vez na vida, já esteve diante de alguma situação absurda que o fez dizer para si mesmo: “isso é o Brasil!”. Mas o que é “isso”? À frustração do “isso” soma-se também uma satisfação. Ambos os sentimentos, frustração e satisfação, contudo, derivam de uma ilusão anterior até mesmo à experiência que os produz: “isso” é um elemento de diferenciação. É o que torna o Brasil um monumento de espanto e admiração para o próprio brasileiro – é o que os torna especiais e diferentes dos outros povos e culturas, que eles sequer conhecem. Estou frustrado porque somente neste país em que vivo tal absurdo é permitido e até mesmo recorrente; estou satisfeito porque isto diferencia o meu país de todos os outros. Mas essa satisfação é uma satisfação torpe, como qualquer emoção promovida por uma alucinação. Qual droga causou em nós esse efeito? Dizemos “isso é o Brasil” em situações extremas: o Brasil é tanto o samba de Pixinguinha quanto aquele castelo construído por um deputado com o dinheiro desviado de algum quinhão qualquer. Nenhum absurdo é exclusividade do Brasil, tampouco da Rússia ou da Índia. O prejuízo é sempre público – o tolo que comemora sua singularidade nas feições da região da qual provém é um tolo que apenas ficou no meio do caminho. Nenhuma vitória pode constatar a pátria ou redimi-la – apenas o esporte (e até mesmo só alguns deles), o Prêmio Nobel e o Oscar são instituições suficientemente válidas para fazê-lo em nome do povo.”

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